quarta-feira, 1 de julho de 2009

Breve raciocínio a respeito do conhecimento e seu papel na evolução do ser humano

Por Ismael Franz

O homem é a criatura mais evoluída, portanto, mais complexa da natureza. Seu estágio atual de evolução comparado com as demais espécies nos faz pensar em quais fatores teriam sido determinantes para este processo que resultou na excelência da nossa espécie.

Muitas teorias científicas bastante difundidas demonstram que os primeiros hominídeos teriam vindo dos primatas, que através do domínio de ferramentas e a realização de trabalhos manuais desencadearam um processo de aprimoramento subseqüente do cérebro, que impulsionou nossa espécie ao patamar evolutivo mais alto, e mais tarde pudemos nos classificar como animais racionais de maneira “exclusiva”. Mas no decorrer deste longo processo evolutivo, sempre existiu um fator de extrema importância para a evolução do homem, e mais tarde a conformação da sociedade, que se trata da acumulação e transmissão do conhecimento.

A transmissão de conhecimento acumulado permitiu que as novas gerações tivessem sua iniciação num patamar mais elevado, pois estes já recebiam o conhecimento provindo das experiências vividas pelos seus antecessores.

Da mesma maneira, o homem moderno se inicia em um mundo onde a informação lhe é passada como conhecimento acumulado, onde já se encontra consolidado um sistema de educação e ensino baseado na identidade cultural e ideológica da sociedade onde está inserido. A grande diferença esta justamente nos meios de comunicação disponíveis.

Existe sempre muita controvérsia a respeito das teorias evolucionistas, mas o fato é que hoje o homem é o ser dominante na natureza e adapta a natureza às suas necessidades, ao contrario de nossos antepassados que se adaptavam conforme as condições que a natureza lhes impunha.

Mas apesar de estarmos em um patamar de evolução bastante elevado na natureza, o homem hoje representa a maior ameaça para sua própria existência. Em primeiro lugar podemos destacar a questão do aquecimento global, que atualmente é uma das discussões mais pertinentes na mídia e que pode resultar em um processo de extinção de varias espécies animais e vegetais na terra que certamente representará uma enorme catástrofe para a própria espécie do homem, questão que nos leva a pensar melhor sobre nosso consumo energético, de maneira que amenize os efeitos do aquecimento global.

Em segundo lugar, em um âmbito mais humanístico, temos hoje um panorama socioeconômico deficiente. A sociedade de maneira geral se insere no sistema capitalista, onde a acumulação de riqueza é o objetivo principal do indivíduo, e usa do conhecimento científico para este fim. Logicamente, este sistema é excludente por natureza, pois o giro de capital é decorrente dos recursos naturais disponíveis no mercado, sendo assim, para que alguns acumulem riqueza, outros necessariamente precisam perder riqueza. E desta maneira está retratada a sociedade contemporânea, onde uma minoria retém a grande maioria das riquezas, enquanto entre a grande maioria da população circula uma pequena parte de toda essa riqueza.



Para que se alcance a igualdade social é preciso que se sociabilizem os bens materiais e culturais da humanidade, começando pelo conhecimento. É preciso que o conhecimento seja acessível a todos, pois o conhecimento é a chave da mudança e da evolução, como vistos nas teorias evolucionistas. A partir do conhecimento e da educação é possível encontrar as devidas soluções para as diversas problemáticas da atualidade, e provavelmente, uma sociedade consciente e conhecedora, encontre meios de reverter a desigualdade econômica, de maneira ecologicamente correta, e consolidando um sistema econômico social inclusivo e de caráter humanista.

A liberdade, a prosperidade e o progresso da sociedade e dos indivíduos são valores humanos fundamentais. Só serão atingidos quando os cidadãos estiverem na posse das informações que lhes permitam exercer os seus direitos democráticos e ter um papel ativo na sociedade. (UNESCO)

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

DECLARAÇÃO DE POSTURA POLÍTICO-IDEOLÓGICA SEGUIDA DE DESABAFO AUTO-BIOGRÁFICO DO SUJEITO CIDADÃO


Texto escrito no curso de jornalismo para o professor Érico Assis, que só dá trabalhos legais.


Eu, Tiago Luiz Franz, brasileiro, solteiro, portador do RG xxxxxxx-x e CPF xxx.xxx.xxx-xx, residente na Rua Xxxx Xxxxxxxx XXXx, Bairro Xxxxxx Xxxxxxx, Chapecó – SC, matriculado na Unochapecó sob o nº xxxxxxxxx, declaro para fins acadêmicos manter posicionamento político-ideológico de orientação à esquerda, bem como praticar a apologia de tais ideais. Mas, como este artigo não precisa ser protocolado em nenhuma jurisdição ou instância burocrática institucional, o cidadão aqui vai ser mais agradável em suas verbalizações.


Sempre quis ser independente. A liberdade é algo bom de se querer e lindo de se defender. Sempre quis fazer o que gosto e acredito ser bom. Uma bela e digna profissão me cairia muito bem. Sempre gostei de boa e farta comida. Saúde em primeiro lugar, seguida de uma educação de qualidade e doses moderadas de um lazer saudável são fundamentais. Para completar, nada como alguns bens materiais para satisfazer os eventuais desejos. Eis a receita que me ensinaram para a tal felicidade.


Era eu um pequeno ser vivente quando o “cara de vestido” derramou aquela coisa benta com uma caneca na minha frágil moleira. Foi tudo registrado. Eu era civil e cristão. Hoje sou só civil, pois dispensei a carreira militar aos dezoito e desisti do paraíso mais ou menos na mesma época. Oito anos depois de vir ao mundo, mais quatro descendentes da mesma prole se sentavam ao meu lado na mesa. Tirando as brigas entre irmãos e desobediências aos pais eu fui um bom cristão. Jesus ouviu as minhas preces e não me deixou faltar o essencial. Santa Claus até me trouxe uns presentes legais. Fiquei rapazinho e algumas mocinhas me quiseram. Tive uma banda adolescente que fez sucesso na escola e vendeu 200 CDs em uma cidade de 20 mil habitantes. Entrei pra universidade e cá estou a me posicionar político-ideologicamente.


Nasci no Estado de Santa Catarina, mas cresci no Estado do Mato Grosso, que é o órgão emissor do meu registro de identidade supracitado. Estado, neste caso, é uma Unidade da Federação. A Federação em questão é denominada Brasil e é a mesma que determina a nacionalidade deste cidadão que voz escreve e que aos quatro anos de idade viu - e jura que lembra disso, mesmo que não entendesse o que significava - Fernando Collor vencer Luiz Inácio no segundo turno. O cara “mais bonito esteticamente por fora” passou a usar a faixa de presidente da Federação. Eu estava no Mato Grosso e as ruas estavam cobertas de papel de campanha. Por lá, o cara de barba não é muito bem quisto até hoje, e eu fui compreender melhor o porquê quando já era bem grandinho.


Além de cristão, o discurso que me educou e me mostrou a receita da felicidade também me foi apresentado mais tarde como sendo conservador, neoliberal, latifundiário e adepto do agronegócio, ou seja, de extrema direita. Essa era minha lente cultural que dava valor as coisas do mundo e que originava a minha antipatia ao barbudo. Mas eu só fui saber disso mais tarde, quando minha lente se quebrou e me emprestaram uma nova. Isso foi na universidade.


Com a nova lente eu passei a ver um mundo diferente. Percebi mais elementos que mereciam ser observados. O antidiscurso me fez rever a receita. Eu quis experimentar novos ingredientes para incrementar a tal felicidade. É verdade que eu já questionava a receita antiga desde cedo, mas eu passei a alimentar mais alguns sentimentos. A independência e a liberdade foram totalmente relativizadas conforme eu tive que lidar com a vida em grupo. O convívio me ensinou que não se faz quase nada para si sem interferir na vida dos outros. Muito do que eu gostava e achava bom passou para o lado das coisas ruins, e vice-versa. Percebi que eu comia pior do que muitos e melhor do que muitos mais ainda. Notei que minha saúde, educação e lazer dependiam do esforço dos meus pais e que as outras crianças nem sempre tinham pais como os meus, se é que tinham. Para completar, descobri a diferença entre desejo e necessidade material.


Sou de classe média. Um privilegiado e frustrado ao mesmo tempo. Tive e não tive, mas o verbo que me motiva hoje é outro: ser. Quero antes ser, não mais do que ninguém, nem menos, para depois ter. “Estou” de esquerda. Obrigo-me a reconhecer o Estado, com todas as suas instâncias. Ainda não sei de que outra forma seria possível administrar pessoas cheias de desejos e necessidades num espaço de terra. Não acredito que a liberdade econômica vá atender às necessidades das pessoas. Talvez atenda aos desejos, e mesmo assim, de somente alguns poucos. Apesar de conhecer as duas lentes, os olhos são os mesmos. Nunca saí de meu lugar relativamente privilegiado.



tiagofranz

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Amarelo


Aquele amarelo já me dava náuseas. A cor da lotação cheia de gente que não pára de balançar e a cor da sacola do cobrador, que insiste em ouvir em alto e bom som uma seleção de canções dos anos 80, que, por sinal, eu odeio. Amarelo também é a cor da blusa da mulher parada na minha frente, escorada no ferro amarelo da lotação, cantando, em enrolês, a música chata que vinha do celular guardado dentro da bolsa amarela do “auxiliar de bordo”. Consigo até imaginar um clipe à la YMCA: de repente, todo mundo se levanta dos bancos e saí pelo corredor do ônibus dançando uma coreografia sincronizada e cheia de piruetas. O cobrador faz a frente e a mulher de amarelo canta. Convenhamos, tem coisa mais chata que coreografia sincronizada em clipe dos anos 80?
Amarelas também são as caras de quem trabalhou o dia todo e agora vai pra casa, sacolejando no ônibus e contando, com sua voz metálica e amarela de cansaço, os detalhes do seu dia, da vida dos vizinhos, do marido que perdeu o emprego, da filha que mora fora da cidade… bzzzbzzzzbzzzzbzzzz, o zumbido das conversas (des)importantes; dos papos e risadas dos garotos e garotas que saíram da faculdade; dos discursos sobre futebol, política, educação ou qualquer coisa que agora não me importa.
Alguém puxa a cordinha e, ufa!, um pouco de vermelho quebra o amarelo e um biiiiip chato (não tão chato quanto o resto dos barulhos) indica que alguém vai descer na próxima parada. Mas bem que esse poderia ser o sinal para indicar “emergência”, como se dissesse: “por favor, acabemos com esse caos! Agora, calem a boca, desliguem a música, fiquem parados. Chega, por favor!”. Infelizmente, o vermelho diz para o motorista que ele deve frear bruscamente para parar no sinal que acabou de fechar e, com isso, prolongar a minha angústia amarela. O Princípio da Inércia, primeira lei de Newton, explica porque as minhas coisas, as coisas das outras pessoas e, inclusive nós (eu e os outros) continuamos em movimento e batemos uns nos outros. Amarelo de raiva.
Verde no sinal e agora só falta mais um pouco… Vermelho, biiiiiiip. Até que enfim, cheguei. Desço do ônibus e entro em casa sem nem olhar pra trás pra ver o amarelo se afastando e me despedir pensando: “até amanhã, bem cedo, logo depois que o amarelo do sol me acordar.”


suzi.